Seguindo a tendência dos blogs voltados para pregações, surgiu a idéia da criação do blog Evangelicalismo Brasileiro, com o objetivo de levar o conhecimento do internauta, os pastores e pregadores expoentes do evangelicalismo nacional.
O que é Evangelicalismo - Suas Origens
Artigo escrito pelo Robinson Cavalcanti, bispo da Igreja Anglicana do Brasil para a Revista Ultimato na edição 253 junho/Julho de 1998.
O evangelicalismo tem sua origem no interior da Igreja da Inglaterra
no século XVIII. Havia, desde o século XVI, a herança da ala mais
protestante da Igreja (“igreja baixa”), com a influência luterana e
calvinista e a presença de puritanos que optaram pela permanência na
instituição. Com os irmãos John e Charles Wesley, George Whitefield e
John Fletcher vem a influência armeniana.
Vale lembrar que o “metodismo” foi primeiramente um movimento evangélico dentro
da Igreja Anglicana. Os irmãos Wesley viveram até o fim nessa igreja,
e, até hoje, constam como homenageados pelo calendário anglicano. Após a
sua morte é que há o cisma, com a criação da Igreja Metodista. Parcela
significativa dos seus seguidores, porém, continuou na Igreja Anglicana,
formando a ala evangelical.
As características O
evangelicalismo inglês, nos seus primórdios, foi marcado pelo
compromisso com a Bíblia como Palavra de Deus, a confessionalidade
credal, a disciplina pessoal, a piedade, o amor aos necessitados, o zelo
evangelístico e a denúncia contra a decadência de costumes.
Em
reação ao iluminismo e ao humanismo, assim resumia um autor as marcas do
evangelicalismo: “O homem não é a criatura nobre que muitos pensam ser;
ele é falível, e totalmente depravado. Por isso ele precisa de
salvação, e a salvação só vem através de Cristo sozinho e depende da fé.
A aceitação, pela fé, de que Cristo é Salvador é chamada de
“conversão”, e esta conversão normalmente acontece de maneira súbita,
que nunca mais será esquecida, como um tesouro, para o resto da vida.
Mas a conversão não é o fim. Ela leva, naturalmente, a uma san-tificação
e crescimento na graça. Estas, o crente encontra por meio da oração, do
estudo diário da Bíblia, dos sermões e, por extensão, dos sacramentos.”
O movimento foi marcado pela revitalização da pregação, pela
inclusão das emoções e pela mudança de vida em milhares de pessoas.
No
começo a sua base social era entre as camadas populares, mas uma de
suas militantes foi Selina, Condessa de Huntingdon, que promoveu em sua
mansão cultos para a aristocracia e a burguesia. Muitos se converteram e
aportaram recursos para a causa (bispos assistiam aos cultos escondidos
atrás de uma cortina...), e a primeira escola para a formação de
missionários foi organizada em Gales. A música cristã foi influenciada,
com a composição de hinos que se tornaram populares até hoje.
O crescimento
Com
o cisma metodista os evan-gelicais anglicanos ficaram inicialmente
fragilizados, mas logo foram revitalizados, no início do século XIX, sob
a liderança de Charles Simeon, de Cambrigde, inspirador dos primeiros
movimentos de universitários cristãos, e de John Venn, de Claphan, que,
juntamente com William Wilberforce, combateu o siste-ma escravista e as
injustiças sociais, no âmbito da ação parlamentar e de iniciativas
filantrópicas.
Os evangélicos criaram a “Sociedade Missionária
de Folhetos”, para a distribuição de Bíblias e de literatura religiosa
às massas. Fundaram também a primeira missão ao estrangeiro, a
“Sociedade Missionária da Igreja” (CMS). Vastas áreas do que é hoje a
Comunhão Anglicana foram evangelizadas por evangélicos, permanecendo
assim até hoje (Quênia, Uganda, Nigéria etc).
No século XIX,
primeiro na Grã-Bretanha, depois na América do Norte, e, finalmente, no
mundo inteiro, a partir do anglicanismo, o evangelicalismo se espalhou
por praticamente todas as denominações reformadas, em muitas se tornando
hegemônico e, em algumas, exclusivo. Na Inglaterra a maioria se reúne
na Assembléia Nacional dos Evangélicos (ENA) e, em nível inter-nacional,
na Fraternidade Evangélica Mundial (WEF).
Na segunda metade do
século XIX e primeira metade do século XX o evangelicalismo sofreu um
relativo declínio na Igreja da Inglaterra e um enorme declínio nas
igrejas anglicanas do Canadá e dos Estados Unidos, diante do crescimento
do liberalismo e do anglo-catolicismo como outras correntes internas.
Após a Segunda Guerra, porém, sob a liderança do Rev. John Sttot, o
movimento conheceu novo florescimento, computando hoje 40% do clero da
Igreja da Inglaterra (com sete dos quinze seminários teológicos), e sua
influência já se faz sentir no âmbito da hierarquia: dois dos últimos
quatro Arcebispos de Cantuária (líderes espirituais e símbolos de
unidade) foram oriundos do evange-licalismo: o penúltimo, Donald Coggan
(um “clássico”), e o atual, George Carey (um “carismático”). A
Fraternidade dos Evangélicos na Comunhão Anglicana (EFAC), presidida
pelo Arcebispo de Quênia, Revmo. David Guitari, reúne, em nível
internacional, os seguidores dessa corrente no anglicanismo.
Autores
como J. Packer, Michael Green, C. S. Lewis, Christopher Wright, além do
próprio John Sttot, e tantos outros são reconhecidos mundialmente, e
sua marca se fez sentir no Movimento de Lausanne. O mundo cristão é
grande-mente devedor à teologia evangélica anglicana, embora muitos
leitores sequer saibam que esses autores são anglicanos e tenham
dificuldade em entender a vigorosa presença do evangelicalismo no
interior de uma igreja marcada pela diversidade de correntes internas.
Evangelicalismo versus fundamentalismo
Em
sendo assim, é bom lembrar que: 1) o evangelicalismo tem origem na
Grã-Bretanha e não nos Estados Unidos da América; 2) o evangelicalismo
tem origem no anglicanismo e não nas igrejas livres; 3) o
evangelicalismo original tinha forte consciência social e política; 4)
por sua base em universidades como Cambridge e Oxford, o evangelicalismo
sempre foi compatível com a excelência acadêmica; 5) o evangelicalismo
das igrejas históricas litúrgicas (anglicanos e luteranos) se expressam —
com simplicidade e criatividade — no marco da liturgia de suas igrejas,
não compartilhando do excessivo espontaneísmo cultural dos evangélicos
de outras igrejas; 6) o evangelicalismo de origem européia,
particularmente o das igrejas históricas litúrgicas, se distancia do
legalismo e do excessivo moralismo dos evangélicos (e fundamentalistas)
de outras igrejas, demarcando uma nítida diferença na área de usos e
costumes; 7) o evangelicalismo das igrejas históricas litúrgicas tem
participado, de modo afirmativo, do movimento ecumênico, não comungando
do separatismo nem do sectarismo encontrados em outros círculos
evangélicos (e fundamentalistas); 8) o fundamentalismo (fraco na
Grã-Bretanha e forte nos Estados Unidos) surgiu, 100 anos depois, como
expressão localizada e extremada do evangelicalismo, e não o
evange-licalismo como expressão moderada do fundamentalismo; 9) o que se
conhece como “evangelicalismo” no Sul dos Estados Unidos e na América
Latina na verdade não é evangelicalismo, mas fundamentalismo. Esse é o
cenário majoritário no Brasil hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário